quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Estudo sobre o stress em Portugal


Stress: Estratégias e Medidas de Prevenção, (Coordenador Científico: Rui Moura), Lisboa, Universidade Autónoma de Lisboa, 174 pp.
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Nas últimas duas décadas a expansão mundial dos mercados de produtos e capitais suscitou transformações económicas e sociais a um ritmo acelerado em todos os países industrializados. Entre os principais factores que contribuíram para esta aceleração são quase sempre referidos, pela maior parte dos autores, as melhorias das tecnologias de produção, as mudanças políticas no comércio internacional e uma maior abertura dos Estados ao estabelecimento de orientações e oportunidades comuns. A este fenómeno costuma dar-se o nome de globalização.

Para se adaptarem ao novo ambiente, as empresas começaram a procurar uma gestão do emprego mais adequada às novas necessidades de integração num mundo cada vez mais global. Assim, a estabilidade das políticas de trabalho que assegurava um modelo mais ou menos previsível e seguro à sociedade começou a ser posta em causa por novas condições de trabalho e de emprego que não tinham nada a ver com o emprego tradicional. Começam a surgir novos quadros jurídicos mais adaptáveis às relações entre os proprietários das empresas e os trabalhadores e inicia-se uma nova época de novas formas de trabalho e de emprego.

Concomitantemente, novas actividades, novos processos de produção e novos progressos tecnológicos emergiram nos locais de trabalho e transformaram as condições de trabalho de muitas pessoas, associando-se a essas mudanças muitos receios e incertezas, emprego por vezes precário, novas pressões e necessidades de resposta a mercados cada vez mais exigentes e vorazes, traduzindo-se em novas condições de trabalho que acarretam sobrecargas de trabalho mais elevadas, intensificação das tarefas devido à restrição de efectivos, maiores responsabilidades, novas competências e conhecimentos especializados, emergindo novos riscos profissionais decorrentes das inovações técnicas e das mudanças sociais e ou organizacionais.

Os novos riscos acumulam, em muitos casos, com perigos e riscos mais tradicionais, e podem ser influenciados por mudanças de percepção quanto aos riscos, designadamente aqueles que são de natureza psicossocial e influenciam directamente o stress ligado ao trabalho, o qual se revela com um fenómeno em crescimento.

As mudanças operadas na vida profissional e na vida pessoal dos indivíduos criaram problemas de equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada e de saúde mental, levando a aumentar o stress ligado ao trabalho.

A longo prazo, o stress relacionado com o trabalho pode criar, também, sérios problemas de natureza física nos indivíduos, designadamente originando lesões músculo-esqueléticas e outras formas de doença, tais como a hipertensão, as úlceras digestivas e as doenças cardiovasculares.

Em geral, as medidas de gestão do stress não têm sido enquadradas transversalmente por intervenções organizacionais que privilegiem o objectivo de diminuição do stress através de melhorias da organização do trabalho, da gestão de recursos humanos, da formação e desenvolvimento, etc., limitando-se a serviços de aconselhamento, sessões de informação e orientação individualizada, mais numa óptica paliativa de natureza individual do que uma óptica sociológica preventiva e reguladora a partir de novas condições de trabalho.

Face ao exposto, a equipa de investigação traçou, para este estudo, o objectivo geral de caracterizar o fenómeno do stress tal como se manifesta em situações concretas de trabalho nas organizações. Nessa caracterização, privilegiou-se uma análise da incidência, dos impactos e dos factores contextuais de natureza organizacional indutores do fenómeno, bem como das práticas organizacionais de prevenção e gestão do mesmo num quadro empresarial.

Para o efeito, o estudo analisa a prevalência de experiências de stress nas organizações de trabalho e identifica os stressores organizacionais, laborais e relacionais mais importantes, no quadro de empresas com características variadas ao nível das regiões geográficas do continente, dos sectores de actividade e da dimensão do quadro de pessoal.
O estudo analisa, ainda, a incidência de experiências de stress nos grupos sócio-profissionais presentes nas organizações de trabalho ao nível de sexo, cargo e habilitações literárias, bem como analisa globalmente os impactos individuais e organizacionais decorrentes do stress no trabalho.

No sentido de se elaborar um conjunto de intervenções possíveis nas empresas e outras organizações de trabalho, o estudo identifica modalidades de organização do trabalho redutoras do stress no trabalho, caracteriza práticas organizacionais de prevenção e gestão do stress no trabalho e elabora estratégias e medidas práticas susceptíveis de diminuir a incidência do stress no trabalho.

O estudo recorre à metodologia de estudo de casos, organizando-se em termos de uma sequência de sete etapas: definição do quadro de referência e do modelo de análise do estudo; construção de instrumentos de recolha de informação; definição e selecção de amostras de empresas e trabalhadores; pesquisa documental e de terreno; análise da informação recolhida através da pesquisa documental e de terreno; selecção e caracterização de casos de boas práticas organizacionais de prevenção e gestão do stress no trabalho.

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