“Desenvolvimento das economias culturais e
criativas, emprego e qualificações profissionais em São Tomé e Príncipe”
[Posição: Team Leader; período de março a junho
de 2016]
A cooperação
iniciada em 1992 entre a União Europeia (U.E.) e os Países Africanos de Língua
Oficial Portuguesa (PALOP) configura-se como uma singular cooperação inserida
no âmbito da cooperação da U.E. com o Grupo ACP (países de África, Caraíbas e
Pacífico), promovida entre países com grande descontinuidade geográfica mas
motivada pela língua comum, afinidades históricas e culturais e um sistema afim
de administração pública, pretendendo-se estabelecer intervenções
complementares aos demais programas de cooperação da U.E.
A U.E. aprovou
o Programa Indicativo Plurianual (MIP) para o período 2014-2020 centrado em: (a)
criação de emprego nas actividades geradoras de rendimentos no sector cultural,
e (b) desenvolvimento das capacidades de governação.
Em
consequência, mostra-se pertinente “realizar
análises de sector e diagnósticos de necessidades, desenvolver subsequentemente
estratégias de emprego, apoiar a sua aplicação […] e a execução de actividades orientadas para a formação profissional e o
emprego e/ou a criação de redes no âmbito do ensino e da formação
técnico-profissionais”, bem como “apoiar
os jovens desempregados e os grupos desfavorecidos nos domínios do trabalho por
conta própria e da criação de microempresas no sector cultural.” (PALOP-TL – União
Europeia, 2014: 8)
Efectivamente, “several
cultural industries are predominantly made up of small businesses or family
businesses that are well-suited for locally based development.” (UNESCO, 2009: 12)
Esta
perspectiva é muito importante porque “o
desemprego e as condições de trabalho precárias entre os grupos desfavorecidos
e os jovens são provavelmente os aspectos mais visíveis da actual crise de
emprego”, sendo que o desafio para melhorar a vida destas pessoas não é
simplesmente aumentar a quantidade do emprego, mas também “melhorar a qualidade dos postos de trabalho”. (PALOP-TL – União
Europeia, 2014: 6)
No sentido
da criação e da melhoria do emprego a perspectiva é ampliada para o
desenvolvimento de uma economia cultural e criativa mediante o apoio a “actividades geradoras de rendimentos, à
mobilidade dos artistas e das obras de arte entre os países de língua
portuguesa e à participação em manifestações culturais internacionais.”
Considera-se que esta linha de acção seja capaz de contribuir para o combate à
pobreza, reforçando “o crescimento
inclusivo, a coesão social e a estabilidade, em articulação com a liberdade de
circulação e a integração regional.” (PALOP-TL – União Europeia, 2014: 8)
Rui Duarte Moura e equipa, recebidos por Sua
Excelência o Ministro
Nesta
perspectiva, o MIP considera, ainda, que “medidas
específicas destinadas a grupos desfavorecidos como as mulheres e os jovens,
bem como ao respeito da diversidade cultural […] contribuirá para promover alguns aspectos da democracia e […] o desenvolvimento dos recursos humanos num
contexto de um crescimento sustentável e inclusivo.” (PALOP-TL – União
Europeia, 2014: 15) Efectivamente, a “culture
offers opportunities for women and youth to participate in productive
activities contributing to gender equality, self esteem and social awareness.”
Mais adiante o mesmo documento
considera que “the defence of
cultural diversity an ethical imperative, inseparable from respect for human
dignity.” (UNESCO, 2009:
14)
Numa
perspectiva global é necessário ter em consideração a boa governação como
princípio transversal da estratégia plurinacional no âmbito da promoção do
emprego, das indústrias culturais e criativas e das qualificações profissionais
para o desenvolvimento de capacidades, tornando-se essencial realizar um
diagnóstico a nível nacional sobre as qualificações profissionais e a gestão da
formação direccionada para o emprego no âmbito do sector cultural.
Tal
orientação pode proporcionar valor acrescentado em diversos domínios,
designadamente “reforço da harmonização
das estruturas e sistemas de qualificação, incentivo ao reconhecimento das
formações profissionais e dos diplomas, simplificação dos procedimentos
jurídicos e administrativos, elaboração de quadros de competências dos
professores do ensino profissional, criação de uma rede de ensino e formação
técnico-profissionais, instauração de regimes de mobilidade para os
investigadores ou apoio ao reforço das capacidades de governação em domínios
específicos de interesse comum.” (PALOP-TL – União Europeia, 2014: 13-14)
Estas
considerações são, de certo modo, corroboradas em 2015 ao ser defendida a “Educação Profissional (Ensino Técnico e
Formação Profissional) numa visão integrada e com maior relevância do sector do
Emprego e a consolidação e expansão e criação de SNQ em todos os PALOP-TL e
propor tabelas de equivalência entre as qualificações atribuídas pelos
diferentes países.” (Ordenadores Nacionais dos PALOP-TL/EU, 2015b: 14)
No
que respeita muito particularmente ao sector da cultura o emprego necessita de
ser apoiado através de actividades geradoras de rendimentos e de circulação dos
artistas e ou das obras de arte no âmbito de eventos culturais a nível regional
e ou internacional. Em São Tomé e Príncipe identificam-se eventos artísticos
que combinam diferentes formas de arte, designadamente o artesanato de madeira,
cerâmica e cestaria, as artes plásticas e as artes cénicas, entre outros,
passíveis de associação ao turismo cultural, bem como uma forte relação entre a
arte da alta culinária e o turismo em
geral, além de outras artes relacionadas com o uso de audiovisuais. Por outro
lado, as “cultural industries have now
converged in a digital format. […] Digital
technology has drastically changed the mode of production and dissemination of
cultural productions. This is especially the case with the Internet, which is
used increasingly to disseminate these various cultural products, sometimes
through the same medium.” (UNESCO,
2009: 12)
Rui Duarte Moura em entrevistas à Rádio e à Televisão Santomense
Neste quadro afigura-se importante reforçar o apoio à elaboração de produtos
culturais, à criação de estratégias de empreendedorismo para a criação de emprego
independente e de microempresas às pessoas desempregadas dos grupos
desfavorecidos, à promoção da formação e das qualificações profissionais em
domínios culturais específicos, e ou a promoção da mobilidade das obras de arte
e dos artistas, contribuindo para o combate à pobreza, para a boa governação,
para o reforço da democracia e para a preservação e o desenvolvimento do
património cultural de São Tomé e Príncipe. Esta perspectiva deve ser
complementada por um esforço redobrado na transposição das actividades
produtivas realizadas em âmbito informal para um quadro de actividades
económicas formais que contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Aliás, a Carta do Renascimento
Cultural Africano é muito clara quanto à concretização de objectivos relacionados
com o sector cultural nos países Africanos ao defender a necessidade de “integrate cultural objectives in development
strategies, […] preserve and promote
the African cultural heritage through preservation, restoration and
rehabilitation, […] strengthen the
role of culture in promoting peace and good governance, […] promote in each country the popularization
of science and technology including traditional knowledge systems, […] encourage international cultural
co-operation”. Defende-se, mais especificamente, no domínio da propriedade
intelectual e das políticas e legislação nacionais harmonizadas com cartas e
convenções internacionais: “create an
enabling environment that will enhance the creation, protection, production and
distribution of cultural works; […] taking
appropriate measures for the protection of intellectual property rights related
to the expression of cultural diversity; harmonizing national policies and
legislation with international charters, conventions and other legislative
instruments.” (Heads of State and Government of the African Union, 2006: 5,
9 e 10)
Espera-se que o conjunto das actividades mencionadas neste enquadramento assegure um forte contributo para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas e do emprego/auto-emprego e da formação e ensino técnico-profissional do cluster, bem como "para identificar e apoiar estratégias para melhorar a governação e as políticas no sector cultural, a fim de facilitar o acesso às indústrias culturais e criativas pelos agentes culturais locais." (PALOP-TL - União Europeia, 2014:15)
Espera-se que o conjunto das actividades mencionadas neste enquadramento assegure um forte contributo para o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas e do emprego/auto-emprego e da formação e ensino técnico-profissional do cluster, bem como "para identificar e apoiar estratégias para melhorar a governação e as políticas no sector cultural, a fim de facilitar o acesso às indústrias culturais e criativas pelos agentes culturais locais." (PALOP-TL - União Europeia, 2014:15)
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Após a
entrega do estudo preliminar de São Tomé e Príncipe realiza-se uma Videoconferência
entre todos os países envolvidos em estudos da mesma natureza – Angola, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Em Junho tem
lugar a Grande Conferência presencial que abrirá caminho a uma perspetiva de
atividades comuns a desenvolver por todos os países no âmbito da CPLP.
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